...Porque ele estava realmente triste e a vida não fazia mais sentido. Deitado no escuro, via pela janela as estrelas – sempre tão vivas e cintilantes; adorava-as. Tantas vezes as olhou e imaginava que de longe, a pessoa que mais amava estaria as contemplando também. Pura bobagem... As pessoas sequer sabem que as estrelas existem. Talvez elas sejam lágrimas, em olhos brilhantes e chorosos.
Então, sobre a luz minguante, pôs-se uma figura espectral a lhe encarar. Ela ergueu seu braço esquerdo e fez com que todas as estrelas se organizassem em filas; formando por fim, uma catedral atrás dela. Seu coração sentiu-se apertado, batendo incerto. Ela tinha uma belíssima coroa sobre sua cabeça – a terra iluminou-se – suas vestes eram negras e bordadas com fios de ouro.
- Filho, tudo o que começa na lua minguante não vai além... Não te culpes, não prove de teu próprio sangue; saiba que existem meus preferidos, mas você não está dentre eles. Seu caminho está posto – eu que sou a mãe de Gêmeos, tão justa quanto tu és, não te quero fazer mais do que te alertar. Enxugue tuas lágrimas, o céu já tem estrelas demais... Vá e leves contigo o céu nas costas, mas não permaneça sob minhas vistas; não mais.
Então, o céu fechou-se de súbito. Seus cabelos clarearam-se até ficarem brancos como gelo e seus olhos caídos reviraram-se em busca de alguma prece. Sua boca estava doce; como uma flauta doce, tal qual aparecia agora com ele. Seus cabelos revoaram e moviam-se como asas de um pombo livre. Começou a tocar uma música – mas qual era? As notas flutuavam e preenchiam a escuridão a sua volta; elas eram iluminadas e suaves como uma brisa. A flauta tinha algo de mágico, um tanto perturbador... De onde viera? Seria um presente dos deuses que tocados pela sua dor o deram tal remédio para aliviar suas desilusões? Apesar de querer saber, não poderia parar de tocá-la.
Calmaria. Tudo enegreceu novamente. As notas evanesceram. As estrelas e a lua, as nuvens encobriram. Tudo estava mais triste agora, terrivelmente triste. A flauta de suas mãos foi engolida por si aos prantos. A flauta que era doce em sua boca, tornou-se amarga em seu estômago.
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