o homem é o único que
bebe sem ter sede
come sem ter fome
e fala sem nada dizer
Quem luta não perde tudo. Perde quem fica de braços cruzados. Quem luta deixa, pelo menos, exemplo a ser seguido.Félix de Athayde
Sentada ali na cama, refletia se deveria mesmo deixar tudo para trás. Todos os sonhos, as esperanças e, principalmente, as lembranças. Sua vida era boa, mas precisava de desafios. Precisava encarar a vida por si só e enfrenta-la como nunca. Ela, que havia nascido e crescido em uma cidade não muito grande, não via grandes infortúnios em ir para uma cidade menor. Nessa cidade poderia estar o que ela procurava tanto: seu emprego dos sonhos, em uma universidade de renome.
A vida de professor não é fácil. Dentre todos os problemas que se tem na vida escolar, há um que se destaca dentre os outros: o de se apegar aos alunos. Na verdade, sempre achara que deveriam ensinar nos cursos para professores para eles serem frios, como um cirurgião. É muito difícil ter que conviver com pessoas e não se envolver com suas histórias, necessidades, frustrações e etc. Pensando bem, deve ser por isso que os professores sofrem tanto com o descontrole de suas emoções, pois além de seus próprios sentimentos, têm de carregar mais um turbilhão dos alunos que são descarregados a cada aula.
Não é fácil dizer adeus àquelas pobres criaturas. Naquela tarde, enquanto despedia-se de uma turma de oitavo ano, viu seu coração apertar mais que o de costume: Lucas, o menino bagunceiro e que nunca prestava atenção à coisa alguma, disse-lhe ao ouvido que ela “era uma ótima professora”.
Não é estranho como as coisas mudam tão rapidamente? Um dia achamos que temos o mundo nas mãos e até podemos girá-lo como bem entendermos, mas no segundo posterior ele escapa dentre os nossos dedos... Ela conhecia-se bem. Era um tanto pessimista, mas estava tentando mudar, ver as coisas com outros olhos. Seus alunos, que por muitas vezes a aborrecia profundamente, também poderiam ser muito agradáveis. Ressentiu. Não poderia deixa-los. Mas não adiantava... Não tinha como voltar atrás; as malas estavam prontas, passagens compradas e tudo mais. Tentou dormir, pois logo cedo viajaria.
Não pregou o olho durante a noite toda. Seu coração batia acelerado, sua barriga parecia ter um buraco negro a consumindo por dentro, suas mãos suavam. Isso não era bom, nunca havia se sentido daquele jeito. Era uma sensação tão ruim que logo já tinha certeza que era uma má premonição. Nada daria certo. Começou a chorar.
Seis horas da manhã, já arrumada; olhos inchados. Pegou o trem até aquela cidadezinha do interior. Fazia frio, muito frio. Eram meados de julho, logo após o fim do primeiro semestre. Vida nova, ar puro e novo. Conduziu-se até seu novo lar, o apartamento 601, muito aconchegante e quentinho. Deixou seus discos e álbuns de fotos em cima de uma cômoda e colocou as malas ao lado do guarda roupas. Estava muitíssimo cansada, mas sem sono. Queria ler. Foi só então que se deu conta que havia esquecido seus livros em casa. Mas tudo bem, tinha duas semanas até suas aulas começarem. Mas precisava ler, de qualquer jeito.
Com a biblioteca da universidade fechada , e esta era praticamente ao lado do seu prédio - muitíssimo grande e possuía livros de tudo quanto é assunto ( diziam até que era uma das mais bem equipadas do país ), teve de procurar por outra. Na rua dos armazéns, perguntou para um senhor de cabelos brancos e com uma cara muito simpática, se a cidade possuía uma outra biblioteca que não fosse aquela. O velhinho disse que no meio da praça central estava a biblioteca municipal, mas que ficava às moscas, já que a da universidade era muito maior. Além disso ela era pequena, e dizem que hoje em dia serve “apenas para guardar velhos documentos”. Ela perguntou-lhe se havia algum livro lá que ela pudesse ler, já que era uma professora de literatura e não queria enferrujar. Ele respondeu que poderia ter algum e disse-lhe o caminho.
Chegando à biblioteca, viu uma mulher realmente idosa tomando conta do lugar, e bem como o outro velhinho do armazém havia contado, não havia ninguém mais ali. Honestamente, aquele lugar parecia abandonado.
[continua...]
...Porque ele estava realmente triste e a vida não fazia mais sentido. Deitado no escuro, via pela janela as estrelas – sempre tão vivas e cintilantes; adorava-as. Tantas vezes as olhou e imaginava que de longe, a pessoa que mais amava estaria as contemplando também. Pura bobagem... As pessoas sequer sabem que as estrelas existem. Talvez elas sejam lágrimas, em olhos brilhantes e chorosos.
Então, sobre a luz minguante, pôs-se uma figura espectral a lhe encarar. Ela ergueu seu braço esquerdo e fez com que todas as estrelas se organizassem em filas; formando por fim, uma catedral atrás dela. Seu coração sentiu-se apertado, batendo incerto. Ela tinha uma belíssima coroa sobre sua cabeça – a terra iluminou-se – suas vestes eram negras e bordadas com fios de ouro.
- Filho, tudo o que começa na lua minguante não vai além... Não te culpes, não prove de teu próprio sangue; saiba que existem meus preferidos, mas você não está dentre eles. Seu caminho está posto – eu que sou a mãe de Gêmeos, tão justa quanto tu és, não te quero fazer mais do que te alertar. Enxugue tuas lágrimas, o céu já tem estrelas demais... Vá e leves contigo o céu nas costas, mas não permaneça sob minhas vistas; não mais.
Então, o céu fechou-se de súbito. Seus cabelos clarearam-se até ficarem brancos como gelo e seus olhos caídos reviraram-se em busca de alguma prece. Sua boca estava doce; como uma flauta doce, tal qual aparecia agora com ele. Seus cabelos revoaram e moviam-se como asas de um pombo livre. Começou a tocar uma música – mas qual era? As notas flutuavam e preenchiam a escuridão a sua volta; elas eram iluminadas e suaves como uma brisa. A flauta tinha algo de mágico, um tanto perturbador... De onde viera? Seria um presente dos deuses que tocados pela sua dor o deram tal remédio para aliviar suas desilusões? Apesar de querer saber, não poderia parar de tocá-la.
Calmaria. Tudo enegreceu novamente. As notas evanesceram. As estrelas e a lua, as nuvens encobriram. Tudo estava mais triste agora, terrivelmente triste. A flauta de suas mãos foi engolida por si aos prantos. A flauta que era doce em sua boca, tornou-se amarga em seu estômago.
Por um momento, tudo veio à tona. Na adolescência temos muitos sonhos; os meus eram audaciosos. Lembro-me dos meus 15 ou 16, quando o mundo era um campo de batalha e o meu pior inimigo era eu mesmo. Eu precisava acabar com esse inimigo, como minha mãe fez com a sua planta que cresceu muito e que estava em nossa sala – ela a cortou bem no começo do caule para que pudesse crescer ali uma outra planta, ainda mais bonita e sem doenças.
Eu não sei se esta regra é para todos, mas eu, quando era adolescente, vivia em um mundo catastrófico e conflitante; paradoxal; era um mundo completamente novo. Sem mais vaidades infantis ( posso lhes dizer que minha infância foi infame, ou quase isso, a não ser por poucas boas pessoas ), eu poderia agora fazer tudo aquilo que já estava sob a minha pele e ser deste mundo. Sim, deste mundo.
Quando eu era criança olhava quase todas as noites de verão para o céu limpo, clamando com lágrimas nos olhos que viessem me buscar – eu tinha certeza que esse não era meu lugar. Não me via na minha família, meus colegas me detestavam e zombavam de mim, todos os tipos de complexidades se criavam aqui dentro... E, finalmente, já adolescente as coisas mudaram, para pior, obviamente. Tudo o que eu vinha construindo de forma errada na infância, tornou-se um furacão ( que por pouco não acabou comigo).
Lá pelos meus 5 anos de idade ( e já sendo odiado pela maioria das pessoas e invisível para o resto delas), lembro-me, quando chegava em frente ao espelho e esse era alto demais para que eu pudesse me ver refletido nele, pedia do fundo do meu coração para que eu crescesse rápido para poder me ver e me arrumar. “Como eu serei com 20 e poucos?” , eu pensava. Era quase uma metáfora. Eu precisava crescer para poder arrumar a quantidade de estragos que ficaram dentro de mim.
Hoje, posso dizer que sou como eu imaginava que seria: mais forte e mais corajoso. Mas ainda não é o bastante; esse é apenas o começo. Eu tenho ainda um longo caminho para seguir. Tive que aniquilar aquele menino, apagar sentimentos e lembranças, destruir alguns sonhos; mas, de tudo aquilo o que ficou? Apenas a esperança e o perfeccionismo. De tão pisado, me fortaleci. Não deixarei que ninguém mais permaneça na minha frente, impedindo os meus sonhos, me dizendo que sou fraco ou esquisito.
Àqueles que me escarneceram eu ofereço a minha pena e lhes digo: Eu estou aqui e vocês ainda ouvirão o meu nome, ecoando em seus ouvidos como martelos sangrentos que o perseguirão pela eternidade.
Andrei.
A guerras começam onde você quiser, mas nunca acabam onde se pretende.Diamante de Sangue
Nunca deixe alguém te fazer sentir como se não merecesse seus sonhos.10 Coisas que Eu Odeio em Você
Se você fosse uma música seria as melhores notas.O Amor Não Tira Férias
O carro avançou rápido e entrou em uma grande rótula. A música começava a tocar no rádio e no meu coração. O que estaria pensando? Peguei em sua mão, mas esta rapidamente foi tirada com a desculpa – a lotação. Sentei-me ereto, olhei para a rua e aqueles prédios desconhecidos; baixei o vidro da janela. O ar agora entrava e corria contra o meu rosto. De súbito eu disse, eu conheço essa música! E nos olhamos, tentávamos lembrar quem a cantava... Ficamos vários minutos discutindo de onde ela era.
De que importa? Percebeu toda essa gente andando e sorrindo... Por que estariam felizes? Fazia calor, era véspera de réveillon. Hoje em dia eu me lembro bem. Quanto tempo isso faz? Não importa, tudo está tão vivo como se fosse ontem.
E se fôssemos conversar com meus amigos? Ah... Eu disse tudo bem, mas tudo o que eu desejava era que ficássemos a sós, mas não era possível, pensei. Você sabe, há muita gente importante e franca para se ver. Era o que achava. Na verdade, olhava para mim mesmo e depois para o lado – comparações eram inevitáveis. Iria chover, o vento estava ficando cada vez mais quente; eu não estava à altura.
Precisamos comer algo. Em breve teríamos que ir para a casa, não a minha, pois eu estava longe – e nos arrumaríamos para a noite, essa que prometia ser inesquecível, pelo menos para mim. Talvez nos beijaríamos, transaríamos após o banho e, deixando a toalha cair ficando tudo à mostra, nos beijaríamos de novo; e os lábios desceriam até onde o fogo queimava mais do que febre de inverno. Minha carne tremia. Eu não poderia, não. Eu não poderia fazer aquilo. Eu não estava preparado. Eu sou ridículo, pensava, olhe para mim, corpulento, desajeitado, frágil. Quem gostaria de explorar tais mediocridades? Olhando para o banco ao lado, eu via praias paradisíacas; nas quais eu não ousaria tocar. Era tudo ilusão.
Posso te beijar? Contanto que ninguém veja, pode. Então deixa pra lá... Talvez depois. E tomamos o nosso refrigerante, já com o carro parado. O telefone tocou. Droga, quem seria? Sim, sim, já estamos indo aí, onde vocês estão? Ah sim, seus amigos. Temos que pegá-los, vamos dar uma volta. E eu?, pensei, não importo? Entramos rápido no carro, não poderíamos deixa-los esperando.
Baixei a cabeça, o líquido já não descia facilmente pela minha garganta. Logo chegamos, a porcaria do local era bem perto dali. Lá estavam os três esquisitos; um deles era mais do que os outros; foi logo com esse tal que a antipatia gritou. Havia algo nele que eu repudiava. Era mongol, falava como se estivesse morrendo, metido a rico. O nome da criatura eu já não me lembro. Olhava-me da cabeça aos pés com ar de reprovação e deboche. Comecei a ignorá-lo. Senti que havia algo de errado. Eu poderia quebrar a garrafa de refrigerante e cortar-lhe o pescoço se eu fosse um pouco mais desequilibrado ( e se a garrafa fosse de vidro, malditas garrafas plásticas ).
Depois de mais algumas voltas pela alameda rumo à igreja matriz e passando de novo pela grande rótula, deixamo-los em casa. Disse-lhe que não simpatizara com aquela pessoazinha. Riu, de mim, deveras.
Fomos para casa, a chuva caiu em turbilhões d’água. O barro vermelho que se acumulava nos cantos da rodovia, agora escorria como sangue vazando de artérias pulsantes. Em seu quarto, eu na cama, olhava tal monumento seminu. Logo se vestiu. Um beijo me arremessou de longe, sorriu levemente e saiu.
"Encontrei o paradoxo, que se você ama até doer, não há como ter mais dor, somente mais amor.” Madre Teresa. |
Fonte: http://img523.imageshack.us/i/nicas64ah5.gif/ |
Hoje minha antiga casa não é mais minha, a rua desconfigurou-se esperando uma nova avenida e meus vizinhos do outro lado se foram. Novos prédios começaram a serem construídos, as pessoas não se veem mais. A casa do meu melhor amigo foi derrubada, seu mercado deu lugar a alguma outra coisa que não me atrevo a saber. Tantas boas lembranças sendo perdidas... Queria poder voltar atrás, minha vida não era ruim., mas minha ganância por coisas novas me cegaram.
Eu não desejei a vida de hoje, mas sei que ela é consequência das coisas que desejei. Um novo caminho se abre, eu sei, mas inevitavelmente fiquei sem abrigo.
For Aristotles a friend is: "A single soul dwelling in two bodies." Para Aristoteles uma amiga(o): é uma única alma vivendo em dois corpo. |
Por um momento você acha que tem o mundo nas mãos, mas no segundo seguinte tudo se esvai e tudo o que você sente é vazio. Seria essa a ordem do mundo? Dar e tirar, molhar e secar, tocar e ignorar?
Por quê?
Eu era infantil e injusto
com você, meu único amigo
Eu me arrependo, mas agora é muito tarde
Eu não posso mais te mostrar
as coisas que eu aprendi com você
Porque a vida te levou embora
Estou perguntando por quê
Estou perguntando por quê
Ninguém dá uma resposta
Eu só quero saber o porquê
Mas um dia nos reencontraremos
E perguntarei a você
Perguntarei a você o por quê
Por que tem de ser assim
Estou perguntando por quê
Por favor, dê-me uma resposta
Tantos anos e brigas estúpidas
Até aceitarmos ver
Como era e sempre será
Por que tem de ser assim
Por que nós não percebemos
Por que somos tão cegos para enxergar aquele
que sempre está ao nosso lado
Estou perguntando por quê
Estou perguntando por quê
Ninguém dá uma resposta
Eu só quero saber o porquê
Só conte-me por quê
Por que tem de ser assim
Os bons desaparecem
Estou perguntando por quê
Estou perguntando por quê
Estou perguntando por quê
Ninguém dá uma resposta
Eu só quero saber o porquê